Algumas considerações sobre Auditoria

As empresas procuram sua continuidade através do crescimento e da diversificação das atividades econômicas que assegurem, aos empresários, a construção de um patrimônio e o retorno necessário às suas expectativas.

Na medida em que crescem as empresas, cresce também o volume e a complexidade das operações, o que torna difícil a missão de um grupo limitado de pessoas ter controle sobre a totalidade de eventos a elas inerentes.

Enquanto na pequena empresa, de um só dono, o controle de todas as operações que envolvem dinheiro, compra e venda de mercadorias, recebimentos e pagamentos, eficiência de funcionários e contas a pagar e receber pode ficar nas mãos do dono ou de poucas pessoas que conseguem desenvolver eficientemente todas essas atividades.

Com o crescimento das atividades econômicas da empresa, aumento da quantidade de funcionários e criação de filiais, aquele controle exercido pelo dono ou poucas pessoas, necessita ser delegado a outras pessoas que cuidarão, individualmente, de uma parte ou segmento da empresa.

A partir desse momento, a administração passa a necessitar de alguém que lhes afirme que os controles e as rotinas de trabalho estão sendo habitualmente executados e que os dados contábeis espelham a realidade econômica e financeira da empresa. A auditoria nesse momento é concebida, toma forma embrionária como atividade necessária à organização e desenvolve-se a fim de seguir a gerência ativa, concedendo-lhes alternativas, como ferramenta de trabalho, de controle, assessoria e gestão.

O termo auditoria, segundo Sá (1998), tem origem no latim, vem de audire, o ouvinte, aquele que ouve. Para attie (1998), o termo deriva da expressão inglesa to audit, que significa examinar, ajustar, corrigir, certificar, posteriormente passou a ser utilizado pelos ingleses no sentido de revisão (auditing).

É difícil precisar a origem da auditoria, uma vez que esta, de forma genérica, se relaciona com atividades de acompanhamento e verificação de processos econômico-financeiros, e desde o início da civilização humana, como relata na Bíblia os casos de Jó, Jacó e outros, o homem busca avaliar e controlar a variação da riqueza.

Existem relatos que por volta do século V A.C., na antiga Mesopotâmia, o imperador Dario I tinha a seu serviço os sátrapas, um grupo de pessoas denominado “olhos e ouvidos do Rei”, com a atividade de visitar e inspecionar as províncias do então vasto Império Persa, trazendo ao governo central informações sobre as incorreções praticadas pelos governantes locais. Também antes de Cristo existiam normas de auditoria inseridas como textos do livro Arthasastra, de Kautilya, na Índia.

Na Idade Média, muitas foram, nos diversos países da Europa, as associações profissionais que se encarregavam de executar as funções de auditoria, destacando-se, entre elas, os conselhos londrinos, em 1310; o Tribunal de Contas, em 1640, em Paris, o Collegio dei Raxonati, em 1581, na cidade de Veneza; e a Academia dei Ragionieri, e, 1658, nas cidades de Milão e Bolonha.

Finalmente, em 1934, temos a criação do Security and Exchange Commission (SEC) nos Estados Unidos, criado após a queda da bolsa de New York, que ficou conhecida como crise de 29, como conseqüência dos trabalhos da Comissão May, que foi criada com a finalidade de estabelecer regras para empresas de capital aberto, e que tornou obrigatória a Auditoria Independente.

A história da auditoria se perdeu no decorrer do tempo, e o nome do primeiro auditor talvez permaneça para sempre ignorado. Conforme o autor Sergio Jund “Provavelmente, pode ter sido um proficiente guarda-livros, a serviço de mercador italiano do século XV ou XVI que, pela reputação de sua sabedoria e conhecimento técnico, passou a ser consultado por outros sobre a escrituração de suas transformações. Supõe-se que a auditoria se estabeleceu como profissão distinta da atividade contábil para um único usuário, no momento em que o especialista em escrituração deixou de praticá-la para prestar assessoria aos demais especialistas e mercadores, transformando-se em consultor público liberal“.

Podemos considerar a Inglaterra como o berço da auditoria, país que durante a Revolução Industrial, buscou na contabilidade, mas precisamente na auditoria esclarecer problemas mais complexos, originados pela procura de capital e a expansão das atividades, mudando o eixo do desenvolvimento prático dessa disciplina para aquele país, com o aumento de volume de atividades empresariais.

Inicialmente as auditorias tinham como foco principal corrigir erros, detectar desfalque e fraudes, e verificar a honestidade dos administradores. Os empresários esperavam de seus funcionários um controle rígido das contas, que não faltava nenhum bem e que as cifras fossem exatas. Estas auditorias atingiam todas as operações e registros contábeis. No entanto, com o passar do tempo, o foco da auditoria mudou, com o entendimento de que para se detectar erros e fraudes bastaria um sistema de controle interno eficaz, tendo a função do auditor uma importância muito maior para o exame do sistema e testes de evidências, de modo que se pudesse emitir um parecer sobre a fidedignidade de todas as demonstrações financeiras e auxiliar os administradores na gestão empresarial.

Conforme explica Attie, as empresas, expandindo cada dia mais suas atividades, inaugurando novas filiais, diversificando e aumentando sua produção, adquirindo novos compromissos e contratando funcionários, despertam preocupações no sentido de controlar e obter informações de pessoas independentes daquelas que a executam.

A auditoria passou a ser mais valorizada também com o crescimento e evolução do capitalismo. As empresas saíram do modelo tradicional e familiar de administração, para um modelo profissional e globalizado. Logo, foi possível que várias pessoas ou empresas tenham participação em outras empresas, e com isso, para que se tenham investimentos seguros, tornou-se necessário conhecer os ativos e o modelo de gestão de forma mais profunda e clara da empresa ao qual se pretende investir.

Por fim, a partir deste breve histórico, nota-se que a auditoria percorreu um longo caminho até os dias de hoje, evoluindo constantemente, aprimorando-se e estendendo-se além das fronteiras da análise e apuração contábil – econômico-financeira – até outros aspectos relevantes das organizações e das relações sociais.

7 thoughts on “Algumas considerações sobre Auditoria

  1. Bom dia,

    Adorei a maneira simples e objectiva com que foi feita a introducao desta cadeira. que tanto aprecio. Gostaria de ler mais artigos sobre o assunto, de forma evolutiva.

    Cumprimentos,
    Artur Cossa
    Maputo
    Mocambique

  2. Boa noite
    Esta breve e rica considerações de Auditoria foram-me muito util
    peço quando for possivel que me disponiblizem artigos sobre tecnicas de selecção para o trabalho do Auditor.
    Saudações

    Lúcia L. Sebastião
    Luanda
    Angola

  3. caro Helio, saudades antes de mais!
    gostei o artigo publicado e se possivel a gradeceria se enviasses me
    um artigo que fale da evoluçao da auditoria em angola!

    obrigado..!

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